domingo, 7 de setembro de 2014

sábado, 17 de maio de 2014

A cidade do pecado


Hoje logo de manhã tomei da minha mochila mais um volume de Sin City. Dessa vez o volume: "A cidade do pecado" (praticamente uma redundância do título em inglês). E mais uma vez Frank Miller mostra toda sua sinestesia e intensidade numa narração em carne viva que chega a gritar nos seus ouvidos em sua arte única de luz e sombras.

"A prisão foi o inferno pra você, Marv. Se você voltar vai ser perpétua.

- Inferno?! Você não sabe o que é o inferno. Nenhum de vocês sabe. Inferno não é apanhar, ser retalhado ou arrastado na frente de um júri viado. Inferno é acordar todo maldito dia sem saber por que você existe ou por que está respirando.
Isso é inferno! E eu finalmente saí dele. Uma pessoa que foi muito gentil comigo teve que morrer pra eu poder sair de lá."



JL

sábado, 26 de abril de 2014

La Grande Bellezza

 

 Acabo de emergir do filme "La Grande Bellezza" que jogou-me nas profundezas obscuras do vazio dos dias, nas sublimes epifanias de quem vagueia por elas e busca pela superfície.
Existem riquezas nesse filme, riquezas inesperadas e de valores há muito esquecidos. Me senti velho, com 65 anos, com pressa por recuperar o que perdi.
Vi-me ao redor de meus velhos amigos, vi-me multiplicado a olhar as belezas dançantes e sentir-me como quem aguarda um convite. Vi-me ser convidado, vi-me aos braços de minha amada mais uma vez.
Vi-me, e vivi-me.
JL

domingo, 20 de abril de 2014

O botão de "play"


Encontrar um pensador, ou uma ideologia que te faça sentir que ali se encerra tudo que você crê, tudo que você é e significa, é provar que alguém já viveu por você, que você é uma réplica, um eco repetitivo, um conjunto de anos já conhecidos.
E me pergunto, como isso pode parecer bom ou parecer cômodo: vestir o rosto de um outro alguém?
E essas mesmas pessoas, são aquelas que entram em lojas procurando um visual diferente, procurando suas personalidades nas gôndolas e nas escolhas banais do dia-a-dia. Elas referem-se a isso como parte de suas "personalidades".
Você possui personalidade ou um botão de "play" no lugar do coração, que ao ser tocado repete o discurso de um outro alguém?
JL  


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Ninfomaníaca

Ninfomaníaca se inicia apresentando uma personagem dilacerada, abandonada numa existência enigmática, embrutecida e silenciada de maneira rude. Despertada por um pensador solitário que por um acaso a encontrou. Talvez pela primeira vez na vida da personagem, ela tenha encontrado um alguém leve, confortável e fértil para que sua existência pudesse finalmente se exteriorizar frente até mesmo a ela.
Sua história é engendrada genuinamente com os fatos corriqueiros do universo pessoal do senhor de meia idade que a acolheu.
Uma mulher lúcida e perdida... o raro caso de saber que simplesmente se existe num mundo borbulhante de incoerências. Uma mulher de conceitos formados e olhares argutos para cada fragmento de existência que possa fazer o mais delicado e imperceptível som ao seu redor. Uma filósofa que escolheu seu modo de trilhar os enigmas e decifrá-los. Um ser de mazelas e medos, que descobriu (assim como todos) maneiras de fugir deles.
A meu ver, uma pensadora empírica com seus próprios métodos... autêntica. Uma autenticidade rara inspiradora.
A talvez única que pode ter um diálogo de igual para igual com o pensador enraizado em seu observatório do mundo.
Ela não o horrorizou, mas sim o fascinou, como Nietzsche se fascinaria ao ver em sua frente o super-homem. Qual seria a diferença dela para os demais? resposta: Ela é infinitamente melhor. Qual a diferença dela para um outro pensador qualquer? resposta: Ela escolheu seus métodos de maneira extremamente pura, sua essência primordial não foi suprimida. Qual a similaridade entre ela e os demais (banais e pensadores)? resposta: ela está fragmentada, perdida e envolta de fraquezas humanas.
 Agora se mergulharmos mais ao cerne dessa personagem inquietante, veremos a fragilidade e a pureza infantil. A mão que procura o fogo pela curiosidade primordial. Os gritos desesperados de uma vida arremessada aos lobos da existência. Uma mulher tão unilateral que chega aos níveis da demência e tão plural que alcança a onipresença divina. Abraçar o mundo e ao mesmo tempo aprisionar-se em sua mais minúscula parte.

Lars von Trier criou uma obra realmente inesquecível, um clássico contemporâneo. Uma joia rara para poucos. Infelizmente muitos assistirão a obra com a pequenez característica das massas. 

JL