domingo, 8 de setembro de 2013

Uma poetiza na multidão



Ontem, eu fiz um esforço quase sobre-humano pra parar de pensar em coisas que me aconteceram recentemente. Que me perseguem a lembrança e me fazem caminhar entre o amor, a saudade e a revolta, as vezes vêm de uma forma que não sei distinguir qual desses eu estou sentindo... as vezes são todos juntos.
Então convidei meu amigo Marcelo Vitor, pra dar uma volta, comer Hambúrguer e conversar sobre qualquer besteira. E lá estávamos nós, sentados no quiosque, comendo um Harmbúrger quase gigante e falando de música, sociedade contemporânea, cidades brasileiras e sobre um amigo em comum q desapareceu por ai de mão dada com uma mocinha e nunca mais voltou.
Então no meio das besteiras e das risadas, uma senhora de casaco azul apareceu do nosso lado, com panfletinhos nas mãos, e ela disse respeitosamente, se queríamos comprar as poesias dela. Eu estava pedindo a conta pra pagar, e acabei não conseguindo pedir pra ela esperar um pouco. Mas eu fiquei observando, enquanto a garçonete me entregava a máquina pra passar o cartão, aquela senhora passando entre aquelas mesas, entre pessoas mais preocupadas com o sanduíche do que com o pedido.
Uma senhorinha com uma feição cansada, tarde da noite, entre pessoas dispostas, que estavam ali pra gastar o tempo e o dinheiro, enquanto ela tentava viver da própria arte. De repente eu estava diante da personificação de um artista que escolheu tentar pra valer, vestir a própria arte, e se alimentar dos frutos dela. Alguém praticamente invisível na multidão, uma senhorinha que recebia “nãos” sem cerimônia ou compaixão. Mas ela ia pra próxima mesa, como se fosse a primeira, e fazia exatamente o  mesmo pedido: - Vocês querem comprar uma poesia minha?
E eu muito apressado, digitei a senha pra pagar o lanche, e quase sai correndo pra não perdê-la de vista.
- Olá, eu gostaria de uma poesia sua. Quanto é?
- Dois reais cada.
- Então eu quero duas.
Ela me entregou um papelzinho azul, e eu estendi a mão para pegar mais um daquele, já que eu tinha pedido duas, e ela disse:
- Espera, vou pegar outra diferente. Você quer duas não é? – Ela abriu uma pastinha que levava debaixo do braço e escolheu entre aqueles montinhos organizados, um panfletinho cor de rosa e disse: - Obrigada por estar me ajudando, viu?
E eu fiquei muito sem jeito, o que eu iria dizer pra ela? – De nada? É claro q não. Ela que estava fazendo um favor, entregando no meio daquela gente vazia um pouco da luz que só os artistas sabem manter e levar. Eu queria dizer tanta coisa praquela senhorinha, mas eu só senti uma dor no peito. Então, ela foi para o próximo quiosque logo ao lado. Perguntei ao meu amigo: Você viu? ela vende poesias que ela mesmo faz! – E ele disse: Sim, ela é conhecida por aqui, já saiu até no jornal. Ela mora lá no centro da cidade, fica até tarde tentando vender as poesias dela. As vezes ela não vende nada, fica triste e bebe uns goró! As vezes ela dorme depois de beber muito, e deixam ela lá até o dia seguinte.
Estávamos indo embora e eu pedi ao meu amigo: - Cara, tira uma foto minha com ela?
- é serio isso?
-sim, é sério!
Fomos atrás dela, eu pedi licença: -Posso tirar uma foto com você?
Ela me olhou com uma expressão meio espantada:
- Mas você me conhece?
- Claro q sim, comprei duas poesias suas!
- pode sim!
E nessa conversa, senti que ela cheirava a álcool. Um olhar triste, vago, perdido. Tirei a foto e quando estávamos quase na ciclovia eu peguei os panfletinhos e li uma poesia aleatoriamente.
Ela se chamava: Amo você. E na manhã seguinte peguei o outro folhetinho e ele se chamava: Medo de te amar.
Daisy Ferreira colocou um palavras os grandes maus do século: O amor e o medo de amar.

Jorge Luis Garcia

Um comentário: